Artigo de Ricardo Cabral.
“Why austerity is only cure for the eurozone”, W. Schäuble, FT, 5 de Setembro de 2011
“Germany’s Schäuble says Greek austerity working”, Fox News, 23 de Março de 2013
Wolfgang Schäuble: “Os programas de austeridade que desenhamos estão lentamente a resultar. Espanha e Irlanda são os casos de maior sucesso”, (janeiro 2014, citação aproximada)
“No, I have no concerns about Deutsche Bank,” W. Schaüble, The Irish Times, 9 de Fevereiro de 2016
“Schaüble: Portugal tem de estar bem ciente de que pode perturbar os mercados,” Diário de Notícias, 11 de Fevereiro de 2016
A origem dos actuais problemas na zona euro, com queda nas acções dos bancos e subida das taxas de juro de bancos e dívida pública, – ao contrário do que Wolfgang Schäuble tem pretendido passar para a opinião pública – não está no Orçamento do Estado do governo português, mas sim em várias políticas económicas europeias desastrosas que, como refere Wolfgang Münchau em coluna no FT publicada no dia 15 de Fevereiro, foram em larga medida determinadas por decisores políticos alemães, apontando a essas políticas e aos seus principais responsáveis, em particular, os seguintes erros:
– não resposta à crise bancária de 2008, recusando-se a “limpar” (reestruturar) o balanço dos bancos;
– política de austeridade pró-cíclica;
– vários erros de política do BCE;
– união bancária mal feita e incompleta.
Münchau argumenta também que os mercados começam a duvidar da capacidade de Draghi em salvar o euro. Aos erros apontados por Münchau acrescentaria erros no desenho da moeda única (UEM).
A leitura que faço é a de que decisores, por esse mundo fora, têm procurado manter tudo sobre controlo evitando roturas, mesmo que suaves, com o status quo.
No caso da zona euro, os decisores europeus tomaram no passado medidas para evitar um novo “Lehman Brothers”, mesmo que isso tenha significado:
– dar dinheiro público a quem antes demonstrou uma gestão incompetente ou até danosa;
– adiar o problema (da dívida privada e pública excessiva) tanto quanto possível, chutando-o para a frente;
– obrigar países membros a adoptar políticas orçamentais para pagar dívida que, sabem ser impagável;
– “chantagear” países membros para imporem as suas políticas (“de austeridade” ou de “resoluções de bancos”), causando danos profundos no projecto de construção de uma Europa, de direito, democrática.
Evidentemente que, como a zona euro é muito rica, é possível manter este estado de coisas por muito tempo (e já se manteve por muito mais tempo do que alguma vez julguei possível ) mas se é verdade que, alterando o sentido da famosa citação de Keynes – bancos centrais independentes de países ricos podem permanecer irracionais durante muito mais tempo do que os mercados, – também é verdade que tais políticas irracionais têm custos económicos muito significativos que se repercutem na economia real, nas perspectivas económicas para o futuro e sobretudo na vida de demasiados cidadãos desta Europa.
Os actuais problemas com o Deutsche Bank e com os 200 mil milhões de euros de “non-performing loans” da banca italiana são disso sintoma.
E algum dia, infelizmente, a Europa há-de ter de pagar a conta que tão irreflectidamente foi contraída por uma geração de políticos e burocratas europeus…
Artigo publicado no blogue Tudo Menos Economia. Nota: Republicado: Acrescenta “resoluções de bancos”