Por António Carlos dos Santos.
«Dans un souci d’économie, crise oblige, la lumière au bout du tunnel sera désormais éteinte»
11 mai 3013
Pensavas que eras um dos europeus
Vivendo num espaço sem fronteiras
Saltando para além dos Pirenéus
Com euros luzidios nas carteiras
Pensavas que gozavas de direitos
Negados em duros tempos de breu
Que amiga, solidária, sem defeitos
A “Europa connosco” concedeu
Pensavas que já eras cidadão
Que pertencias ao primeiro mundo
Quando a financeira especulação
Te arrancou de um sonho bem profundo
Tudo isto existe,
Tudo isto é triste,
Tudo isto é fado…
A austeridade é o remédio que cura
Dizem aqueles que não sentem seus efeitos
Mais um tempo e virá uma tal fartura
Que estarás no paraíso dos eleitos
Empobrecer é a via da riqueza
Desemprego é só oportunidade
Um mero estado de alma é a pobreza
Emigrar quer dizer prosperidade
O que tens é de ser competitivo
Mais lesto que o vizinho no fazer
Estares todo o tempo de olho vivo
E empreender, empreender, empreender
Tudo isto existe,
Tudo isto é triste,
Tudo isto é fado…
Descobres com surpresa pois então
Que eras mais um número no mercado
Cortam-te no salário ou na pensão
E aguentas a sorrir, bico calado
Aumentam-te os impostos e as taxas
Sobem rendas e contribuições,
Mais tarifas e outras sobretaxas
Os spreads e o preço dos feijões
Eis a austeridade expansionista
Refulgindo em todo seu esplendor
Que engorda com milhões o bêpênista
E ao povo distribui tristeza e dor
Tudo isto existe,
Tudo isto é triste,
Tudo isto é fado…
E enquanto resistes estoicamente
À troika e aos nervosinhos do mercado
E aos que pieguinhas chamam à gente
E te tratam como se fosses gado
Eis que novo resgate traz o inferno
Para salvar os juros onzeneiros
Nunca mais se premeia este governo
Com o eterno repouso dos guerreiros
Termino, oh senhores do alto império
Incendiários da pátria malquista
Lembrando-vos que um dia pode a sério
O povo não querer ser masoquista
Tudo isto existe,
Tudo isto é triste,
Mas tudo isto é fado?