O Trade-off Taxa de desemprego/Défice externo e os erros de previsão da Troika

Artigo de João Ferreira do Amaral e João Carlos Lopes.

Num artigo por nós recentemente elaborado, é utilizado um modelo input-ouput para avaliar a consistência do Programa de Assistência Financeira negociado entre o governo português e a Troika. Um modelo input-output consiste num conjunto de equações que, com base do que se conhece da tecnologia de cada sector produtivo, resume a forma como se realiza a produção de uma dada economia e também o destino dessa produção (para consumo, investimento ou exportações). As importações de bens e serviços são também consideradas no modelo.

O modelo permite-nos calcular a produção (e portanto o PIB) e, através desta, o emprego necessários para satisfazer uma dada procura final (que é o somatório do consumo privado, do consumo público, do investimento e das exportações). O modelo input-output é assim um modelo macroeconómico mas que se baseia em relações tecnológicas de produção de dezenas de sectores de actividade que constituem a economia de um dado país. Por outro lado, como as relações base do modelo têm na sua maior parte a ver com a tecnologia da economia, que é relativamente constante a curto prazo, não são tão afectadas por uma crise grave como o são outros comportamentos económicos, pelo que permitem atribuir uma maior robustez aos resultados das projecções feitas com o modelo.

A avaliação que fizemos não se baseia na comparação do que foi previsto no programa com os resultados efectivamente obtidos. A nossa preocupação foi outra. Foi a de comparar o que foi previsto no programa para o valor da taxa de desemprego com o que deveria ter sido previsto para essa taxa de desemprego se se tivesse utilizado um modelo input-output. O ano escolhido para a avaliação foi o de 2012.

Os valores utilizados para as restantes variáveis que constituem o enquadramento macroeconómico são os mesmos que foram admitidos pelo Governo e que constam do Orçamento de Estado para 2012. Mais uma vez, estes valores não são os que efectivamente se verificaram em 2012, mas aqueles que foram previstos para esse ano em Outubro de 2011, quando o orçamento foi preparado.

Com base nestas hipóteses, e partindo de uma relação inversa (trade-off) entre a taxa de desemprego e o défice externo, devidamente quantificada, o nosso artigo demonstra que a política para 2012, constante do Orçamento de Estado para este ano, subavaliou fortemente os efeitos sobre o desemprego. A taxa de desemprego que o Governo deveria ter previsto seria 17,5% e não os 13,4% que efectivamente previu.

Confirma-se assim, também para Portugal, que as políticas de contração da procura interna, induzidas pela Troika, subavaliam os efeitos negativos sobre o desemprego.

Para mais detalhes sobre este importante assunto, pode consultar-se o artigo em causa: Amaral, J. F. e J. C. Lopes (2015), “The Trade-off Unemployment Rate-External Deficit: Assessing the Economic Adjustment Program of the Troika (European Commission, ECB and IMF) for Portugal using an Input-Output Approach”, Wp042015DEUECE.
Este artigo, publicado (em versão draft) na Nova Série de Working Papers da Unidade de Estudos sobre Complexidade e Economia (UECE) e do Departamento de Economia do ISEG, está disponível em: https://aquila5.iseg.ulisboa.pt/aquila/departamentos/EC.


Uma versão posterior do artigo foi entretanto submetida ao Cambridge Economic Journal, e está atualmente em processo de refereeing.