Artigo de João Rodrigues.
Desculpem, mas tenho de voltar à carga a propósito do revoltante alargamento da ADSE previsto no OE, um contributo para a destruição do SNS que tem de ser revertido quanto antes. Previsivelmente, os neoliberais já aproveitaram para defender a universalização desta benesse à medicina privada. Para lá do CDS, os melhores argumentos são visíveis num dos melhores intelectuais das direitas, capaz de identificar as oportunidades como poucos, André Azevedo Alves. Seria trágico que as esquerdas, por colonização ideológica, ignorância ou puro oportunismo reforçassem esta visão.
Já agora, armadilhas deste e doutros tipos há muitas e as da tarifa social de electricidade, do cheque-dentista, da baixa da TSU ou da subsidiação dos salários baixos são só mais quatro, duas já reais e as outras duas ainda potenciais, no campo de uma cultura política material desta forma também sob continuada hegemonia neoliberal.
Entretanto, nada está perdido, dado o debate. As esquerdas poderiam aproveitar as reconquistas alcançadas pelos trabalhadores do sector público no plano salarial e potencialmente nas condições de trabalho (as 35 horas têm de ser uma realidade) para reunir as condições políticas, qual plano inclinado progressista, por forma a reduzir mas é o alcance da ADSE, com vista a assegurar o seu fim a prazo.
É que desta forma dar-se-ia um sinal político poderoso sobre a inclusão igualitária de todos no Serviço Nacional de Saúde, o que também seria ajudado pelo progressivo fim dos incentivos fiscais ao recurso à medicina capitalista; sem ficções sobre a liberdade de escolha ou sobre a concorrência mercantil, num sector cheio de assimetrias de informação e de poder, onde o acesso à medicina socializada, robustecendo um direito de cidadania, seja entendido como a melhor forma de superar essas assimetrias. Isto sim, seriam boas reformas estruturais de matriz socialista…
Artigo publicado no blogue Ladrões de Bicicletas.