Artigo de Ricardo Cabral.
Lorde Mervyn King, governador do Banco de Inglaterra entre 2003 e 2013 e vice-governador entre 1998 e 2003, publicou agora um livro “The End of Alchemy” (O fim da alquimia), tendo-o apresentado esta terça-feira na London School of Economics (LSE). Evidentemente Mervyn King tem alguma motivação em provocar polémica, agora, para criar interesse no seu livro. E, graças ao seu “gravitas” e relevância como importante decisor, causou polémica ao afirmar na LSE:
“Nunca imaginei que assistiríamos de novo num país industrializado a uma depressão mais profunda do que a vivida pelos Estados Unidos nos anos 30, mas é isso que ocorreu na Grécia. […] É terrível e aconteceu quase como um acto deliberado de política o que faz com que seja ainda pior.”
O Telegraph publica um extracto do livro, que vale a pena ler. Já muitos – em que me incluo – disseram algo muito parecido com o que Mervyn King agora tão eloquentemente expressa nesse capítulo. Espero que Mervyn King, enquanto governador, entre 2010 e 2013, tenha defendido veementemente tal posição nas suas reuniões com decisores da Europa continental. Lamento que, no âmbito dessas suas funções, não tenha tido a coragem para expressar tal posição publicamente, o que muito teria contribuído para evitar ou, pelo menos, minorar a desgraça que se abateu sobre o sul da Europa e, em particular, sobre demasiado muitos dos meus conterrâneos. Afigura-se-me que foi um “desserviço” que fez à União Europeia e aos interesses do próprio Reino Unido, ao “atirar“ estas palavras para fora do seu mandato.
Contudo, as suas afirmações, agora após o “mea culpa” em relação à reestruturação de dívida de outra famosa instituição – o FMI – , são muito importantes e necessárias. Porque são escritas por mais uma figura de proa do “establishment”, independente, prestigiada e pensante, que finalmente clama contra a política irracional que continua a afundar o projecto de integração europeia. Espero que Wolfgang Schäuble leia, pelo menos, esse capítulo do livro de Lorde King.
Artigo publicado no blogue Tudo Menos Economia.