Não pode ser assim (no BANIF)

Artigo de Francisco Louçã.


Ao cair da noite deste domingo para 2ªf, a TVI e depois os jornais, incluindo o PÚBLICO, publicaram algumas informações e diversas interpretações sobre o eventual fim do BANIF ou uma imediata intervenção dos reguladores no banco.

Esta informação não devia ter sido filtrada e a sua divulgação, verdadeira ou falsa, é prejudicial para a resolução dos problemas do banco. No mínimo cria incerteza, no pior dos casos prejudica as soluções.

Não é novidade que o BANIF está desde há muito em situação difícil. A injecção de 1100 milhões de euros pelo Estado, que se tornou sócio a mais de 90% (e ainda mantém mais de 60% com 825 milhões) demonstrou a precariedade do banco. A procura de novos sócios, a começar por um sempre anunciado e sempre falhado negócio com a família reinante na Guiné Equatorial, só demonstrava que a administração não olhava a meios mas não conseguia resolver o assunto. A desatenção da Ministra das Finanças do governo anterior ou do governador do Banco de Portugal, ou de ambos, é chocante: ou foi incompetência ou foi irresponsabilidade. Não se pode deixar passar tanto tempo sobre um problema que só se agiganta.

Entretanto, tendo a Comissão Europeia rejeitado diversos planos para o banco, a administração emitiu na 6ªf um comunicado, a pedido da CMVM, para responder a especulações. O comunicado anunciava que havia compradores interessados em adquirir a parte do Estado, com as acções a subiram 56%.

Luís Amado já tinha dado uma entrevista na semana passada para tentar conter as dúvidas, mas agora a administração foi categórica. Por isso, se nesta semana essa venda não se concretizar, temos um problema em cima de um problema. Lembro a propósito que também nesta 6ªf, no Tabu na SicN, interpretei este comunicado como podendo ser (pelo menos) uma fantasia: não vejo como possa haver interessados em comprar acções num valor tal que compense a parte do Estado.

O que é portanto certo é que existe um problema no banco.

Mas a divulgação de várias hipóteses de intervenção, aliás diferentes e contraditórias entre si, é um erro. Para operar uma resolução de um banco ou qualquer outra forma de intervenção, não se pode deixar que haja notícias a correr – isso tem um enorme potencial de criação de novos prejuízos e de manobras de última hora. A intervenção, qualquer que seja, é feita num fim de semana e nunca anunciada ou discutida umas horas antes de começar a semana. Dentro de algumas horas, a Bolsa ressentir-se-á disso.

Quem tomou a iniciativa de fazer divulgar estas hipóteses desordenadas nas televisões e nos jornais procurou manipular os jornalistas e procedeu de modo a prejudicar a confiança no sistema bancário, a prejudicar a resposta técnica que venha a ser necessária e a tentar erradamente condicionar os decisores políticos. O resultado é que o tempo ficou mais curto.


Artigo publicado no blogue Tudo Menos Economia