Para o infinito e mais além!

Artigo de Helena Silveirinha


 

Li há uns anos no jornal i, um artigo com o título “E agora algo radicalmente diferente. É melhor trabalhar só 21 horas”. A notícia dava conta de uma conferência promovida por um think-tank em que defendiam que “em nome do bem-estar da população, da diminuição da pobreza, da redução do consumo, da diminuição das emissões de dióxido de carbono ninguém deveria trabalhar mais de 21 horas por semana.” A segurança social, tão falada por estes dias, também entrava nesta equação: “Segundo os autores do estudo, a vantagem imediata para a economia seria abrir mais postos de trabalho e diminuir o desemprego – que tem custos sociais, para a segurança social e para o serviço nacional de saúde, uma vez que as pessoas em situação de desemprego correm o risco de desenvolver mais situações de doença, nomeadamente depressão.”

À porta de eleições o futuro da segurança social, nomeadamente no que respeita à sua sustentabilidade, tem sido objeto de discussões mais ou menos inflamadas, não só quanto às causas como quanto às soluções. Se o problema é demográfico, se é da falta de emprego, se é devido aos baixos salários, se é pela própria construção do modelo, são várias as opiniões e diversas as propostas de caminho apresentadas. Mas em nenhum dos casos se coloca em causa a forma como estamos organizados em sociedade, a forma como lidamos com o mundo laboral e a centralidade que este ocupa na nossa vida.

De vez em quando surgem uns zunzuns e umas vozes se levantam. No futuro não haverá emprego para todos. É assim, porque o mundo não para, porque as novas tecnologias avançam e porque se houve tempos em que as máquinas nos ajudaram a produzir mais, a previsão é que elas façam com que deixemos de ser necessários para produzir.

Fruto da crise que ainda atravessamos, a Europa dos 28 viu de 2008 a 2014, mais de 9 milhões de pessoas ficarem desempregadas[1]. Está-se a tentar reverter (ou minimizar) esta situação e o Compact for Growth and Jobs, através de um pacote de 120 biliões de euros para estimular a economia e combater o desemprego foi uma das formas encontradas pela União Europeia para o fazer, com resultados pouco expressivos até à data. Mas voltará tudo a ser como era? Quantas empresas que tiveram de proceder a uma restruturação dos seus quadros, voltarão a empregar o mesmo número de trabalhadores que tiveram de dispensar? Mesmo as que consigam voltar a uma produtividade semelhante à do período anterior à crise, a tentação de fazer mais com menos será enorme.

Não, não é suposto fazermos finca-pé e recursarmo-nos teimosamente em avançar. Não é possível. Mas é possível começarmos a pensar (sim, começar, porque estas coisas levam tempo e só quando as vemos escritas nos livros de História é que ficamos com a sensação que foi tudo muito rápido, que as revoluções acontecem de uma página para a outra) e a questionar o próprio sistema e organização do trabalho em que a nossa sociedade assenta, em que a nossa segurança social assenta.

Se trabalhássemos menos, ganhávamos menos. Mas haveria mais emprego e por essa via menos exclusão, fundamental para o equilíbrio de qualquer sociedade, e haveria também mais tempo. Tempo para fazer coisas que hoje tenho de contratar terceiros para as fazer, porque não tenho tempo, tempo para me dedicar a outras atividades, que também elas podem produzir riqueza, ou não, tempo para estar com quem de mim precisa.

Não podemos fazer esta reflexão sozinhos. De nada vale. Mas podemos fomentar a discussão e começar a olhar para o infinito, ou mesmo um pouco mais além.

Nota:

1- Dados do Institute of International and European Affairs.